mardi 6 avril 2010

Expresso 305

Come, chama o elevador, corre, banheiro, verificação, dois pensamentos, elevador foi embora, aperta, corre, cáqui, verificação. Tranqüilidade, elevador, cabelos. Corre, penteia o cabelo, corre, ônibus, 2,25, muita gente, fone de ouvido, Gainsbourg, fim da bateria, blusa no chão, enroscar no fone, bolsa no chão, muita gente. Terminal, expresso, boiada, sentar, muitas pessoas, pensamentos. Motor, estudantes, porta.
Nisso alguém berra, motorista a menina ficou presa. Ficou presa na porta do expresso 305, entenda. Ela não será socorrida, a porta não abre. Primeiro terá que percorrer o mundo expresso, café na frenesi do dia. Pela primeira vez percorria os caminhos expressos pelo lado de fora. A porta dividia seu corpo em dois, cabeça para fora, corpo para dentro. A empresa CMTU falhou: deixou que ela vislumbrasse o mundo lá fora. E, justamente, o mundo do expresso. Seus olhos deviam pulular, contornar, arrebitar, iluminar, transcender. Que mundo haveria lá fora, qual seria velocidade dele, que caminho tão tortuoso percorria o expresso 305?
Ela batia os pezinhos do lado de dentro, seu corpo balançava como se estivesse nadando. A respiração parecia profunda. A cada instante um novo movimento brusco, e olhávamos comovidos para o pedaço de corpo no ônibus expresso.