Pela janela

Pela janela vejo o céu – e que céu. Nele há prédios, pássaros, nuvens, carros, árvores, ruas. O céu é o que o vejo, as coisas se misturam no céu. Um todo azul carrega um todo colorido. O primeiro plano é feito pelas cores bem cores. O azul do céu, o verde das plantas, o preto dos pássaros, o branco das nuvens. Cores vitais da minha janela. As cores dos prédios se apagam, mas algum movimento faz uma mistura harmônica.
Da minha janela não se vê apenas um quadro pintado. Existe algum segredo por entre as entranhas das cores. Então, as pontas dos pés e o olhar atrevido começam revelar algumas coisas. A cabeça coça, olho de novo. Descubro: o mundo flutua. As cores movimentando não são apenas os carros. Flutuam as ruas e prédios, para um lado e para outro. As pessoas e carros tendem a ir contra o movimento. Algumas ainda flutuam, como a criança, a dançarina, o bebâdo, o senhorzinho da esquina, um varredor de calçada, alguns artistas e outros tantos indivíduos em suas vidas plenas.
O mais bonito é ver as coisas que flutuam junto. Os pássaros – como gostamos do flutuar dos pássaros e não percebemos que o mundo todo flutua. Os prédios estão lá em cima já. Mas quem flutua mesmo são as plantas, meu deus, como aquelas folhas flutuam. Ai, os pássaros sentem e deslizam. E vão como se fizessem parte inteiramente do mundo flutuante. O espaço é longínquo e a altura faz a caída uma aventura genial nas cores que se misturam.